publicado por nobilissimavisione | Quinta-feira, 22 Outubro , 2009, 22:03

O Tribunal de Instrução Criminal arquiva o processo contra Fontão de Carvalho. Fecha-se outro capítulo de um dos mais lamentáveis «casos» políticos dos últimos anos: a implosão interna (via PSD) da presidência de Carmona Rodrigues em Lisboa.


publicado por nobilissimavisione | Quarta-feira, 14 Outubro , 2009, 14:56

Anda ao rubro a consciência nacional, ferida pelas diatribes de Maitê Proença. Esta assunto está a trazer ao de cima algumas das principais qualidades que caracterizam o povo português (se essa generalização fosse possível): a tolerância, a capacidade de auto-ironia e de reconhecer os seus próprios defeitos, a inteligência (na resposta às críticas), a generosidade...Vi a peça da actiz brasileira e achei-a divertida - e certeira nalguns aspectos -, sem ser nada de especial; tem uma parte escatológica q.b,. que nem todos apreciam, mas alguma coisa naquilo justifica estes disparates?


publicado por nobilissimavisione | Quarta-feira, 14 Outubro , 2009, 12:18

Para quem se mostra muito preocupado com o enésimo decréscimo da taxa de natalidade: reproduzam-se ou abram a porta aos imigrantes.


publicado por nobilissimavisione | Sexta-feira, 09 Outubro , 2009, 10:29

O Comité Nobel parece apostado este ano em testar a sua credibilidade. Depois do Prémio Nobel da Literatura ontem atribuído a Herta Müller, hoje vem o Nobel da Paz para Obama. Sem pôr em causa as boas intenções do Presidente americano, nem a utlização dos seus afamados dotes oratórios nesta matéria, o que é que Obama fez efectivamente em favor da paz desde que é Presidente? E o que é que já poderia ter feito e ainda não fez (nomeadamente no Médio Oriente, no Congo, no Sudão, na Birmânia, etc)? Parece ser uma decisão precipitada e néscia.


publicado por nobilissimavisione | Sexta-feira, 09 Outubro , 2009, 00:32

Da morte podem dizer-se muitas banalidades. Mas a transformação da própria morte de alguém numa coisa banal é algo que implica a sua desumanização; o genocídio, as execuções em massa, os campos de extermínio, que correspondem a essa banalização da morte, só são concebíveis - ou aceitáveis num sentido não valorativo desta palavra - se os carrascos conseguirem ver as vítimas como «outros», como não-pessoas, como algo ontológicamente diferente de si próprios. Se assim não fosse, seria impossível afastar o carácter sacralizado, místico, da morte, como momento de condensação de uma qualquer energia vital, de um qualquer projecto específico, uma transformação ou cessação da alma (e vou já pedindo a necessária indulgência para estes dislates). No caso dos animais, esta dificuldade seria facilmente ultrapassada: não são humanos, o momento em que deixam de viver (=morte) nada tem de único porque os animais não têm singularidade, são a repetição de alguns moldes em diversas variações, não têm alma, não são criadores, são só criaturas, cujo sacríficio é autorizado desde que afastada a pura arbitrariedade. No entanto, a morte de um animal, se olhada, se «vivida», tem muito de singular, de «humano», na dor, no sofrimento, no medo, na presciência ou na falta dela, «quando a luz se escoa», como fica claro no tempo implacável deste terrível e belo poema de Francisco Brines (a tradução, como sempre. é de José Bento):

 

MORTE DE UM CÃO

 

A chegar à cidade

pude ver que os rapazes atacavam o cão

e o obrigavam, confundidos os gritos e os uivos, a desfazer o nó com o corpo do outro,

e a corrida louca contra o muro,

e a pedra terrível contra o crâneo,

e muitas pedras mais.

E volto a ver aquele rodopio

súbito, todo o pavor do seu corpo,

sua vertigem ao correr,

sua vida a transbordar daquele corpo flexível,

sua vida que escapava pelos olhos abertos,

cada vez mais abertos

porque a morte o obrigava, com sua pressa irada,

a abandonar de dentro tanta substância por viver,

e só pelos olhos encontrava saída;

porque não havia luz,

porque só a sombra chegava, tenebrosa.

 

Ali entre os detritos

daquele muro de inóspito arrabalde

ficou estendido o cão;

e agora lembro sua cabeça hirta

com angústia imprevista:

como os humanos, seus olhos reflectiam

o terror ao vazio.

 

 

Mesmo as humildes criaturas invertebradas, em que não encontramos a dimensão trágica da morte por imitação da morte humana, contêm a possibilidade de individualização pela morte. E agora recorro à serena poesia de Fiama Hasse Pais Brandão:

 

NATUREZA MORTA COM LOUVADEUS

 

Foi o último hóspede a sentar-se

no topo da mesa, já depois do martírio.

As asas magníficas haviam-lhe sido quebradas

por algum vento. Perdera o rumo

sobre a película cintilante de água

no riacho parado. Tal como poisou

junto de nós, com o belo corpo magro

arquejante, lembrava, ainda segundo o seu nome,

um santo mártir. Enquanto meditávamos,

a morte sobreveio, e a pequena criatura,

que viera partilhar a nossa mesa,

depois de ter sido banida das águas

foi banida da terra. Alguém pegou

no volúvel alado corpo morto

abandonado sem nexo na brancura da toalha

- que maculava -

e o atirou para qualquer arbusto raro

que o poeta ainda pôde fotografar.

 

 

A morte é tão só, estupidamente, desencarnadamente, a ausência de vida e a memória da mesma. Como uma sombra. Mais uma vez Fiama:

 

A CRIA MORTA

 

As ovelhas baliam ao longe

levadas pelo caseiro

até à outra margem do campo,

quando a verdura escorre mansamente

de socalco em socalco

e fica estagnada numa berma sombria.

Só a sombra

detém esse caudal verde.

E nada susteve a primavera inelutável,

nem a agonia

do cordeiro ante-pascal.

 


publicado por nobilissimavisione | Sábado, 03 Outubro , 2009, 00:39

Há muito tempo que um livro não me irritava tanto. Mas provavelmente sem razão. Os desaparecidos, de Daniel Mendelsohn, que relata um périplo afectivo e geográfico - Austrália, Galícia, Israel, Escandinávia... -, numa busca pelo que sucedeu verdadeiramente aos seus parentes desaparecidos no Holocausto, parece ser mais um volume destinado à família do autor do que ao público em geral. O  narcisismo do autor, a equiparação obsessiva dos seus traços físicos aos dos familiares desparecidos, a exposição (muito americana) sem qualquer pudor dos seus sentimentos (do autor e dos seus irmãos), a omissão de partes da história, em si perfeitamente legítima, mas que o autor nos "esfrega na cara", dando o máximo relevo àquilo que aparentemente pretende resguardar, tornam a leitura desconfortável - no fundo, como se o leitor estivesse a partilhar de algo que não lhe cabe. E a comparação do conflito entre Caim e Abel com a relação entre os judeus e os ucranianos, que é uma das linhas de força do livro, é pretensiosa e (julgo) despropositada, tal como o alongamento artificial da narrativa. Mas a afectuosa caracterização de algumas figuras notáveis - a irónica e comovente Sr.ª Begley, por exemplo -, muito bem conseguida, e a serena descrição da indizível violência, maldade, mesquinhez e paradoxal banalidade das atrocidades que são reveladas na segunda metade do livro, justificam plenamente a sua leitura. O passado é uma pedra com várias faces. Muitas vezes pesada e erodida.

 


publicado por nobilissimavisione | Sexta-feira, 02 Outubro , 2009, 23:45

A comunicação presidencial da passada terça-feira deve ser uma das declarações políticas mais comentadas dos últimos anos. É uma peça enigmática, que conscientemente pouco explica, e não prima pela elegância, como é do timbre do seu autor (que todavia, tem outros méritos mais relevantes). Para alguns, é a confirmação do carácter maléfico, anti-democrático e arcaico que sempre reconheceram ao actual Presidente; para outros, é apenas uma intervenção desastrada e muito arriscada que não expôs (ainda) males maiores (julgo que foi o melhor que até agora se conseguiu arranjar). No entanto, pensoque a maioria das observações até agora feitas perde de vista o carácter da intervenção presidencial, que não é (não pode ser) táctico, mas sim estratégico. Representa a afirmação presidencial de que um Governo minoritário do PS não pode contar com o seu apoio, ao contrário do que sucedeu com o Governo de Cavaco em 85 e com os Governos de Guterres. E um Governo minoritário sem apoio ou pelo menos tolerância presidencial é uma impossibilidade lógica. Daqui resultam uma série de interrogações: quis o Presidente fazer uma tentativa desjaitada de recomendação ou imposição de um  Bloco Central? Aposta o PS em eleições a curtissimo prazo, para recuperar a maioria absoluta (que o Presidente não permitirá certamente)? Desistiu Cavaco Silva já da sua reeleição (mas ano e meio é muito tempo em política)? O conflito inevitável que se seguirá será surdo por vontade do Presidente e estridente por vontade do Governo. Mas é o Presidente que tem a melhor mão nesta situação. E desenganem-se os habituais arautos da reforma constitucional (desta vez para reduzir os poderes presidenciais): o Presidente não utilizou nenhum dos seus poderes de direcção política, mas o singelo poder de exteriorização do seu pensamento, acessível a qualquer (supostamente) inócuo Presidente de um sistema parlamentar: basta pensar nas intervenções espantosamente desajustadas e inconvenientes (e nas delirantes gaffes...) do Presidente alemão Lübke (1959-1969).

 


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