Outro poeta da Geração de 50. O poeta. Francisco Brines nasce em 1924 em Oliva, na província de Valência. A sua poesia é complexa, densa e intensamente elegíaca (segundo alguns, demasiado). Os temas são os do costume: o tempo, a morte e, mais distante, um reflexo do amor. Cinzas. O seu livro mais belo é o «El Otõno de las Rosas» (1984). Há uma antologia dos seus poemas em português, muito completa, organizada e traduzida por José Bento. É de lá que retiro esta poema:
DE BASSAI E O MAR DE OLIVA
Era naquela viagem pelas terras adormecidas da Arcádia,
para encontrar o templo onde florescera o primeiro sorriso de capitel de acantos
(ou de rosas),
ali onde a ausência adusta do cestinho era um canto de fogo e de cigarras.
As colunas de pedra sustinham o pássaro e o céu.
Os pássaros azuis, o céu desmoronado.
O féretro estival do tempo destruído. E tudo se perdia e era eterno.
Em teus olhos eu olhava o mundo que era estável, muito velho, e tu sonhavas só
como a juventude.
E antes vi o mar, nas horas solitárias da sesta,
quando o sol enlouquece sua extensa superfície, e brilha no ar de ouro suspenso
essa frescura eterna que faz deuses meninos os olhos do que olha,
quando chegam velozes e pausadas as velas distantíssimas,
e só existe o mar, o corpo de uma glória azul e inacabável,
e aquele que o contempla com olhos escondidos e o olhar ardente:
o rapaz, com um secreto amor também inacabável
de si mesmo,
porque o mundo e a vida se hospedam nele apenas.
E ninguém havia ainda que o suplantasse, nem tua humana formosura.
O mar está aí, mas não o olhar e as velas,
e o templo, com as suas portas fechadas, é triste e católico.
Alguém me deu um abraço de adeus definitivo num cais muito acre
e busco nos espelhos, e arranho e não encontro
esse que fui e que de mim morreu e é minha inexistência.
Sinto-o mais estranho que a mim mesmo
quando, enfim já cego, anseie conhecer-me e o vazio seja tudo,
e isto assim porque avisto um breve resto de sua luz ainda.
Sei que cheirei um jasmim uma tarde na infância e não existiu a tarde.