Nunca gostei do mês de Novembro. Lembro-me de regressar da escola em pequeno, já noite cerrada, com os raros passantes apressados a refugiarem-se nas casas, fugindo do princípio do frio, da humidade e, sobretudo, do escuro. Para mim Novembro é o mês do escuro, de noites infindáveis, lareiras com brasas dormentes e fumarentas, um tempo de espera sem esperança. Mas Novembro é um mês importante para mim: mês de desgostos, alguns grandes, mas também mês de realizações, de etapas que cumpri, mais do que qualquer outro. É um mês em que a vida se move, em que as esperanças ressequidas e as ilusões estioladas do Verão findo estão prontas para ser eliminadas pelo frio, pela chuva, pelo fogo lento, pela ausência de luz, como uma poda de ramos velhos e secos, que vai permitir, logo em Janeiro, às vezes antes, passada a boçalidade do Natal, que novas esperanças, ilusões, projectos, comecem vagarosamente, nos dias de frio luminoso, a tomar forma, para crescerem até ao Verão, e novamente o ciclo se repetir. Mas de ano para ano, sinto alguma diferença, como numa velhíssima amendoeira, cuja copa toca na terra, que sobrevive na extrema do meu terreno: cada ano os rebentos verdes vão sendo menos, no meio de um caos de galhos secos e partidos. Mas continuam a aparecer.